quarta-feira, 13 de julho de 2016

FIM

No domingo passado publiquei o post que representa o livro de número 300 e hoje, logo depois do pôr do sol, o deixei no banco do calçadão que fica quase em frente ao Farol da Barra. Assim, após abandonar trezentos livros que faziam parte da minha biblioteca, e da minha vida, encerro o blog.

Dou por cumprida a missão que estabeleci em abril do ano de 2010 e parto para uma nova forma de leitura. Quero voltar a fazê-lo despreocupadamente e no meu ritmo. Aproveitar esse tempo de vida que me resta para degustar as palavras escritas e não mais sorvê-las freneticamente porque tenho que cumprir a meta de um livro por semana.

Não pretendo apagar o blog da rede. Vou deixa-lo pairando nessa nuvem que é a Internet para visita-lo quando sentir saudade, ou até escrever um novo post quando achar que um bom livro merece meu humilde comentário. Também deixarei ativos o e-mail e o campo dos comentários para responder aos que escreverem.


Aos leitores e amigos meu sincero agradecimento.

Até um dia.

domingo, 10 de julho de 2016

EM BUSCA DE UM NOVO AMANHÃ


Sidney Sheldon (1917-2007) foi ousado quando escreveu Lembranças da Meia Noite – 1990, a continuação de seu maior sucesso O Outro Lado da Meia Noite – 1973, com o inegável estilo que o consagrou. Outra ousadia desse mestre foi desenvolver uma história para um personagem coadjuvante de outra obra. Foi o caso de Dana Evans, ela aparecia numa trama paralela em O Plano Perfeito – 1997 e ganhou o protagonismo no livro O Céu Está Caindo – 2000. Tilly Bagshawe continua escrevendo na sombra do mestre já falecido com autorização da família que detém os direitos da obra. Já publicou livros cujo enredo foi desenvolvido por Sheldon e que não houve tempo para terminar, assim informa a assessoria de imprensa. Prova disso é o ótimo A Senhora do Jogo – 2009, que é a continuação de O Reverso da Medalha – 1982, outro livro memorável.

Em 1985 Sheldon publicou Se Houver Amanhã, um livro que alcançaria enorme sucesso de crítica e público e sua heroína Tracy Whitney é, na minha mais modesta opinião, a mais carismática das personagens do autor. Sofremos com seus percalços e vibramos com suas vitórias, uma protagonista fora do padrão para a época. Todos ficam apaixonados por Tracy e torcem para que seus roubos fiquem impunes e ela tenha um final feliz ao lado de Jeff Stevens, seu grande amor.

Eu sou um dos milhões de fãs de Tracy e quase enfartei quando vi na livraria o título “Em Busca de Um Novo Amanhã”, em cuja capa a esperta editora ainda achou espaço para colocar a seguinte frase: “A heroína de Se Houver Amanhã, Tracy Whitney, está de volta em uma sequência de tirar o fôlego.” É óbvio que apanhei um exemplar e corri para o caixa. Tracy e Jeff se casam no Brasil e, aposentados dos crimes, vão morar em Londres. Ele vai trabalhar no museu e ela aguarda ansiosamente um filho para completar sua nova vida. O filho não vem e uma estagiária do museu estraga seu casamento. Tracy some no mundo disposta a esquecer Jeff. Dez anos se passam. Roubos de joias e obras de arte estão acontecendo no ‘estilo’ Tracy e uma coincidência levanta a suspeita de que ela esteja envolvida com os assassinatos de mulheres cujos cadáveres são encontrados ao lado de textos bíblicos. Jean Rizzo, detetive da Interpol, começa sua investigação que vai colocar Tracy e Jeff frente a frente novamente.

Mesmo com todos os elementos de um livro que faz jus a grife Sidney Sheldon: fortuna, poder, intriga, assassinatos, hotéis de luxo, desaparecimentos, obras de arte, vinganças, Tilly Bagshawe não consegue ser tão genial como seu mestre. Há fragilidades desnecessárias na trama. Talvez lhe falte a possibilidade de seguir o próprio rumo e não ficar à mercê de pensar como Sheldon escreveria. Deve ser muito difícil ver a capa do livro que você escreveu sozinho e constatar que seu nome aparece abaixo de outro autor mais famoso e ainda escrito numa fonte menor. Basta ver a fotografia do livro que está no post.

PS: Este é o livro de número 300 que vou abandonar. Para mim uma marca significativa. São 300 livros retirados da minha biblioteca e estou muito feliz em dividi-la com vocês.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Banco calçadão quase em frente ao Farol da Barra
Data: 13/07/2016

domingo, 3 de julho de 2016

O MENINO DO DEDO VERDE


Tinha 14 anos e me considerei velho demais para aquele livro de capa verde, estava lendo por causa de um trabalho escolar e não percebi de imediato a grandeza da obra que tinha em mãos. Lembro que houve um sorteio entre as equipes de trabalho para os livros que a professora selecionou e na minha hora recebi diretamente O Menino do Dedo Verde porque ela sabia que eu já havia lido Meu Pé de Laranja Lima, Caçadas de Pedrinho, O Pequeno Príncipe, dentre outros. Não lembro como ficou o trabalho da escola, mas a história de Tistu voltaria a aparecer na minha vida.

Anos depois estava na casa de meus pais arrumando os livros que levaria para meu primeiro apartamento quando achei o exemplar do mais famoso livro de Maurice Druon (1918-2009). Lembro que pensei em reler, mas não o fiz. Quando mudei para São Paulo muitos livros ficaram em caixas durante meses até que as estantes do apartamento ficassem prontas e é claro que reencontrei o livro nas arrumações. Nem precisei reler todo, bastou folhear algumas páginas e me ater aos grifos feitos para o trabalho da escola para que a história voltasse à memória, exatamente como aconteceu agora antes de escrever esse post.

“- Descobri uma coisa extraordinária – disse Tistu em voz baixa. – As flores não deixam o mal ir adiante.”

Para quem ainda não conhece, Tistu é um garoto que não conseguia frequentar a escola formal e os pais resolveram que ele teria professores particulares para a escola da vida. Quando Tistu conhece Bigode, o jardineiro, descobre que possui um dedo verde que tem o dom de fazer crescer plantas e flores quando toca em algum lugar. Esse talento secreto de Tistu tocaria diretamente a alma do jardineiro. O menino começa então a desbravar o mundo questionando padrões estabelecidos da forma como só uma criança é capaz, com o coração aberto e o pensamento simplista frente ao que vê e o que sente.

“A prisão é dessas coisas que a gente encara tranquilamente para as pessoas que não conhecemos. Mas logo que se trate de um menino de quem a gente gosta, é tudo diferente.”

Não estou triste por abandonar minha edição de 1976 cheia de trechos grifados, acredito sinceramente que o livro será achado por alguém que aproveitará o que já está marcado e fará novas inserções. É um livro de criança que todo adulto deveria ler para não esquecer que já foi pequeno um dia.

“Pois fiquem sabendo que nunca conhecemos ninguém completamente. Nossos melhores amigos reservam sempre surpresas.”

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Lounge Sala DeLux - Shopping Barra
Data: 12/07/2016