domingo, 5 de junho de 2016

O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO


Praticamente toda a minha geração leu O Apanhador no Campo de Centeio, único sucesso literário de J. D. Salinger (1919-2010) e figurinha fácil em várias listas de livros para ler antes de morrer. A obra tornou-se um ícone adolescente a partir dos anos 60 do século passado por tratar de temas como angústia, alienação, sensação de pertencimento do jovem, tudo embalado com uma linguagem típica da época, gírias e palavrões, demonstrando a rebeldia do anti-herói. Em 1951 não havia uma literatura voltada para a faixa entre 15 e 18 anos como nos dias de hoje e talvez por isso a obra foi tão discutida e abraçada.

No site da editora existe a informação que o livro foi traduzido para as principais línguas do mundo e ainda hoje vende cerca de 250 mil exemplares por ano, atingindo estratosféricos 65 milhões de cópias desde seu lançamento. Uma curiosidade sobre seu autor, J. D. Salinger, é que ele se recolheu após o sucesso do livro e viveu recluso até sua morte com raríssimas aparições para a imprensa. Chegou a publicar outros livros considerados pela crítica especializada como ‘sem relevância’.

A primeira vez que fiz a leitura eu tinha a mesma idade do protagonista do livro e passava pela minha fase adolescente rebelde. Acredito que exatamente por isso achei o livro parado demais e quase abandonei a leitura. A história de Holden Caulfield acontece num fim de semana e começa após ele saber que, devido às suas notas e ao seu mau comportamento, seria expulso no dia seguinte do prestigiado Colégio Pencey. Uma briga com seu colega de quarto é o estopim para uma peregrinação por Nova York que o levará ao encontro de Sunny, a prostituta, Sally Hayes, a ex-namorada, Phoebe, sua irmã mais nova, e o Professor Antolini. Apesar de conter passagens interessantes como a história do museu e o sonho do apanhador de crianças, eu achei o livro chatíssimo.

Posteriormente, aos vinte e quatro anos, reli a obra em outro contexto da minha vida e percebi que na primeira leitura faltou maturidade para entender as entrelinhas e o processo de transformação física e psíquica que passava pela cabeça do Holden. A narração na primeira pessoa é o ponto de partida para entender que pouco importa a ação do livro, o sentido está no que o personagem pensa. Todas as metáforas nos levam a perceber sua dificuldade em crescer, sair da infância e passar a ser adulto. Esse hiato é uma fase difícil até hoje, largar o infantil é perder a inocência das coisas e talvez o sonho do apanhador seja exatamente não deixar as crianças caírem no precipício, mantê-las num mundo perfeito em que brincar é a principal tarefa. Até hoje a obra é passível de críticas veementes e elogios eloquentes, eu passei pelas duas fases. Agora tente você.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Banco da praça em frente à igreja do Sr. do Bomfim
Data: 10/07/2016

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