domingo, 17 de janeiro de 2016

O MORRO DOS VENTOS UIVANTES


Considero a década de 1980 como e época mais fértil das minhas leituras. Foi quando comecei a trabalhar e amargava boas horas dentro do ônibus que me levava e trazia do trabalho. Nessa época me acostumei a ler com o coletivo em movimento, mas dependia de ter acentos livres. Quando a empresa que eu trabalhava passou a oferecer ônibus fretado o hábito se intensificou, eram pelo menos três horas de leitura diária que compreendia o trajeto de ida e volta, muitos colegas dormiam e eu aproveitava o silêncio como se estivesse numa biblioteca. Durante quatro anos usei esse tempo para ler quase todos os livros das coleções que a Editora Abril lançava quinzenalmente nas bancas de revista.

Eram coleções formadas basicamente por grandes obras da literatura nacional e estrangeira, impressos em papel “inferior” os livros eram bem mais baratos que os encontrados nas livrarias. Sorte a minha que pude ler obras primas sem pagar muito, uma delas foi O Morro dos Ventos Uivantes, um clássico da literatura inglesa escrito por Emily Brontë (1818-1848) com pseudônimo de Ellis Bell. O livro foi lançado em 1847, mas só chegou ao Brasil por volta de 1940, até os dias de hoje foram muitas edições e também adaptações para o cinema e a TV. Nos dias de hoje é uma obra quase esquecida assim como foi a vida da sua autora, uma mulher extremamente tímida que vivia reclusa e morreu de tuberculose aos trinta anos sem provar o gosto do sucesso de seu único livro em prosa.

A história é contada pela governanta Ellen Dean e começa quando o patriarca da família Earnshaw volta de viagem e traz um jovem órfão de procedência não explicada para morar na propriedade de Tcrushcross Grange. O jovem de nome Heathcliff desperta a afeição da filha Catherine e ao mesmo tempo um ciúme doentio do filho Hindley por achar que o pai gostava mais do intruso que do próprio filho legítimo. Com a morte do Sr. e Sra. Earnshaw, Hindley passa a tratar Heathcliff como um criado, humilhando-o e castigando-o. Catherine e Heathcliff se apaixonam, mas ela decide casar-se com outro temendo que o jovem não consiga sustenta-la como está acostumada e isso faz com que Heathcliff abandone a propriedade. Anos mais tarde ele volta rico e disposto a vingar-se de todos que o humilharam, essa vingança irá se arrastar por três gerações.

O livro é tão rico em detalhes e por vezes tão sombrio e violento, com descrições precisas sobre a alma dos personagens, que fica difícil acreditar que foi escrito por uma mulher tão solitária e introspectiva. Li um texto que Charlote Brontë escreveu sobre a irmã Emily: “Embora seus sentimentos pelos que a cercavam fossem benevolentes, relações com eles ela nunca procurou, nem, com poucas exceções, as experimentou. E mesmo assim ela os conhecia: sabia seus costumes, sua linguagem e a história de suas famílias. Podia ouvir sobre eles com interesse, e falar deles com detalhes, porém, com eles, raramente trocou uma palavra.”

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Sorveteria do Porto da Barra
Data: 20/02/2016

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