domingo, 18 de outubro de 2015

TUDO QUE EU QUERIA TE DIZER


Conheci a autora Martha Medeiros (1981) através do teatro. Lília Cabral arrastava multidões ao teatro para assisti-la em Divã e eu fui um desses espectadores que torceram pela libertação de Mercedes. Mas tarde fui arrebatado pela atuação de Ana Beatriz Nogueira na peça Tudo Que Eu Queria Te Dizer. Quando descobri que as duas peças eram adaptações de livros da mesma autora comecei a ler suas obras publicadas: poesia, crônica e romance. Mas confesso que não gosto de tudo, prefiro as crônicas, acho que Martha é boa nisso e nesses sucintos textos consegue extrair a essência e a emoção da vida.

O livro Tudo Que Eu Queria Te Dizer me pegou logo de cara, talvez porque sou do tempo das cartas escritas à mão, envelopadas, seladas e enviadas pelo correio. Levaria uns três dias para que o destinatário lesse minhas palavras, dependendo do endereço esse prazo poderia ser estendido para mais de uma semana. O cuidado que eu tinha em comprar o papel colorido, a caneta de tinta nanquim, de fazer colagens com recortes de revista, expressavam meu carinho para com o outro. Também não sei se o livro me abocanhou pelo tema, coisas que gostaríamos de dizer e não temos coragem de fazê-lo pessoalmente, mas precisamos dizer e a carta é a forma de revelar o sentimento sem estar necessariamente ao lado de quem queremos falar. Expressar-se é difícil, e falar de sentimentos olho no olho é mais difícil ainda, dizer ‘eu te amo’ ou ‘me perdoe’ para alguns é quase impossível, mas, ao escrever essas palavras podemos mudar o rumo de nossas vidas.

O livro é exatamente sobre isso, cartas. São pessoas que escrevem para desabafar, matar as saudades, pedir perdão, exorcizar sentimentos e prazeres encobertos. Parecem cartas reais já que trazem os sentimentos comuns das pessoas e nisso Martha é uma mestra, ela sabe como emocionar de forma simples e direta. Seus personagens trazem essa verdade de quem precisa dar uma virada, por isso são cartas reveladoras, de despedida, que passam uma situação a limpo. A amante enviando uma carta para a esposa traída, o jovem que escreve para a mãe do amigo que ele matou num acidente, a esposa que ganha a vida como prostituta, a viúva que descreve a saudade daquele que se foi, como observadora atenta do cotidiano Martha consegue colocar um pouco de nós mesmos em cada texto.

Mas não se engane o leitor, nem só de dramas vive o mundo e as cartas também soam engraçadas. Como a da mulher que escreve para seu demônio interior por querer livrar-se do “coisa-ruim” que ela sente existir e a atormenta. Bem divertido é ler a resposta do “coisa-ruim” para ela.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Pátio do Museu Palacete das Artes
Data: 02/01/2016

3 comentários:

  1. Olá!Tô lendo agora e encantada!! Mas me diga uma coisa, nunca vi a peça da genial Ana Beatriz, qual das cartas do livro ela encena? O texto dela deve ser adaptado ao teatro, mas no geral, vc que já assistiu a interpretação dela, é mais ou menos fiel ao livro? Pergunto porque sou apaixonada pela atriz e quero ler as cartas imaginando ela encenando, hahahaha. Obrigada!!

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    1. Olá Anne, pelo que me lembro o texto da peça era o mesmo do livro, mas acredito que não eram todas as cartas, só metade delas foi para o palco. A interpretação da Ana Beatriz era visceral e arrebatadora. Boa leitura e obrigado por visitar o blog.

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    2. Obrigada você, pela gentileza! Vou acompanhar seu trabalho aqui. Beijinho!!!

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