domingo, 30 de agosto de 2015

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS


Fico cada vez mais feliz e ao mesmo tempo muito intrigado em saber como uma obra que foi escrita há 150 anos continue despertando os mais diversos interesses midiáticos. Eu particularmente gosto muito das obras cuja alcunha de “Clássico” surge assim que pronunciamos seu título. Mas não fico vivendo só do passado, tenho um olho que vê lá atrás e outro que vê o agora, e assim vou levando a vida com o máximo de referências que consigo. Antes de escrever esse post coloquei o título Alice no País das Maravilhas do Google e apareceram 430 mil verbetes em 0,34 segundos de pesquisa, sem contar o que aparece no final com o título de ‘Obras Relacionadas’, no Wikipédia foi igual, vários subtítulos e as chamadas “desambiguações”.

Seu autor, Lewis Carroll, pseudônimo utilizado por Charles Lutwidge Dodson (1832-1898), estava passeando num barco com sua amiga Alice Liddell, esta com 10 anos de idade, quando começou a inventar uma história para entreter a criança. Alice gostou tanto do que ouvia que pediu a Charles que escrevesse aquela história maluca. Assim nasce Alice’s Adventures Underground. Um ano depois ele refaz o manuscrito original, aumentando a história, e em 1865 publica pela primeira vez a história de Alice no País das Maravilhas, na nova versão incluiu dois personagens que se tornariam emblemáticos: o gato e o chapeleiro.

Conheci a história de Alice ainda criança através de uma coleção de discos de vinil coloridos, colocava-se na vitrola e as histórias eram narradas. Muito tempo depois ganhei uma coleção de livros em formato pocket lançados pela editora L&PM e lá estava Alice. O interessante desse livro é que dependendo da versão e da idade que você lê a obra, sua percepção sobre a história da menina Alice, que cai num buraco quando perseguia um coelho falante e se vê num mundo cheio de aventuras e desventuras, pode mudar radicalmente.

Em 2010, quando Tim Burton nos apresentou sua versão cinematográfica de Alice, coloridíssima e cheia de efeitos que só o cinema pode proporcionar, reli a obra na versão original e me apaixonei novamente por Alice, garota destemida e cheia de atitude. Só tenho medo que essa onda conservadora e politicamente correta venha por suas mãos nefastas sobre o texto como já andaram fazendo com a obra de Monteiro Lobato. Seria tristíssimo se a Rainha de Copas não pudesse mais gritar “Cortem-lhe a cabeça!”.

OBS: Na foto acima está a capa do primeiro exemplar publicado em 1865, no meio a capa do livro versão pocket que vou abandonar, e por último a versão pra lá de colorida que comprei para minha sobrinha-neta.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Sorveteria A Cubana - Praça Municipal
Data: 26/09/2015

domingo, 23 de agosto de 2015

O PRIMO BASÍLIO


Hoje acordei pensando num assunto que é recorrente entre meus amigos quando descobrem que sou um consumidor voraz de livros e escritor desse blog; como convencer alguém a ler uma obra já esmiuçada pela mídia e adaptada para outras artes? Em primeiro lugar gostaria de esclarecer que não sou pastor da Igreja Livreira, se é que esse lugar existe, e não fico por aí pregando e enchendo o saco dos amigos para que eles leiam, leiam e leiam. Em segundo lugar quero deixar claro que não fico fazendo citações de livros em conversas informais, ou formais, com a pretensão de ser/parecer erudito ou culto. E por último, deixo claríssimo que não procuro convencer ninguém a nada, não sou o tipo de pessoa que quer ver no outro seu espelho.

Quando esse assunto vem à tona eu sempre tinha uma resposta pronta: ‘o livro é sempre melhor que o filme, a peça, a novela, etc.’ Mas depois de alguns exemplos como O Diabo Veste Prada, Budapeste, A Culpa é das Estrelas, Ensaio Sobre a Cegueira e outros, cujas versões cinematográficas ficaram melhores ou tão boas quanto o livro, eu parei de dizer isso. Hoje eu tenho outra resposta: Cada obra tem um impacto diferente nas pessoas, para alguns o livro é mais detalhista, para outros basta o filme ou a minissérie, o que importa é o conhecimento que essa experiência vai te trazer.

E foi exatamente isso que aconteceu comigo quando assisti a minissérie O Primo Basílio em 1988. Não sei se foi o impacto da trama escrita por Gilberto Braga e Leonor Bassères, baseada no romance de Eça de Queirós (1845-1900), se foi o quarteto principal de atores cuja formação era Tony Ramos, Giulia Gam, Marcos Paulo e Marília Pêra, ou se foi a excelente reconstituição de época, cenário e figurinos sob a direção geral de Daniel Filho. O fato é que, no dia que ia ao ar o último capítulo eu comprei o livro, começava ali minha incursão pela obra o Eça de Queirós, que em algumas publicações aparece como Eça de Queiroz, quem puder explicar isso manda uma mensagem.

A obra, cuja primeira edição foi publicada em 1878, é atualíssima quando a vemos pelo prisma da vilania, da luta de classes, do subir a qualquer preço, e do preço que se paga pela traição. Não estou julgando Luísa por viver seu grande amor pelo primo Basílio durante as longas temporadas de tédio por causa das viagens constantes do seu marido Jorge, cidadão pacato, cumpridor das leis e inquestionavelmente apaixonado pela esposa. Não julgo Basílio, apesar da evidente dubiedade de caráter já estabelecida na primeira descrição do autor, e não julgo Juliana, a empregada vil, que rouba os sonhos românticos da sua patroa pelo simples fato de nunca ter sido amada.

Não vou recomendar a leitura do livro, não vou recomendar ver a minissérie que foi lançada recentemente em dvd, e nunca recomendarei ver o filme, apesar da boa atuação de Glória Pires no papel de Juliana. Assim como na música, algumas interpretações na TV ou no cinema são definitivas, não é possível cantar Atrás da Porta como Elis o fazia e, na minha mais humilde opinião, a Juliana que Eça de Queirós imaginou era a Marília Pêra.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Ponto de Ônibus - Praça Castro Alves
Data: 26/09/2015

domingo, 16 de agosto de 2015

QUEM AMA, EDUCA!


Alçado erroneamente à categoria de “livro de autoajuda” a obra do renomado médico Içami Tiba (1941-2015) deve ter sofrido de algum preconceito por parte de muitos leitores. Eu devo confessar que fazia parte dessa turma. Como já escrevi várias vezes aqui no blog parafraseando uma amiga querida Agnes Zuliani, “livro de autoajuda serve para quem o escreve, para quem lê é, no máximo, livro de ajuda”. Eu quebrei essa barreira depois que assisti uma de suas palestras quando ainda morava em São Paulo, fui designado pela empresa que trabalhava a organizar um seminário sobre educação em suas diversas vertentes e então fui convidado para assistir uma palestra do autor do livro que estava virando um best seller nacional, o livro chamava-se Quem Ama, Educa!

Confesso que fui com certo mau humor, mas também confesso que após quinze minutos de iniciada a palestra eu já tinha me rendido ao jeito simples, tranquilo e direto de falar do Dr. Içami Tiba. Como médico psiquiatra e psicodramatista ele tinha a capacidade de falar verdades de maneira tão calma e consistente que era quase impossível não querer leva-lo para casa. Sua Teoria da Integração Relacional criada para facilitar o entendimento entre pais, filhos e educadores, em forma de psicodrama, mudou o entendimento da palavra ‘educação’ nesse mundo digital de relações frugais e culto à forma de nunca dizer não aos filhos. A teoria do Dr. Içami é baseada numa palavra que ele mesmo inventou “adultescência”, em que a maior parte dos problemas psíquicos dos adolescentes é atribuída ao comportamento de seus pais, que agem eles próprios de forma infantil almejando a juventude eterna e não percebendo que isso faz com que seus filhos percam a referência do adulto como exemplo de vida.

Não tenho filhos, não me considero exemplo para qualquer ser humano, mas tenho a percepção do que acontece ao meu redor e vejo casais escravos dos filhos, que não tem mais vida própria e tudo que fazem é em função dos pequenos, criaram meninos mimados, cheios de vícios e que mandam nos pais sem pulso e sem argumento. Vejo também pais que disputam o amor dos filhos como se fosse uma competição, perguntar ao filho de cinco anos; “de quem você gosta mais, do papai ou da mamãe?” é dar uma responsabilidade de opinião a uma criança à qual ela não tem noção nem discernimento para corresponder.

E assim lá vamos nós rumo ao futuro, na minha mais humilde opinião Quem Ama, Educa! não é um livro essencial, mas esclarece alguns pontos e nos leva a pensar. Se você puder adquira a versão mais nova cujo título ganhou um adendo ‘Formando cidadãos éticos’ e vamos torcer para que o futuro seja mais ético.

OBS: O Dr. Içami faleceu recentemente, isso me incentivou a escrever esse post e fazer uma singela homenagem ao grande palestrante e pensador, um ser humano essencial.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Shopping Barra - Balcão em frente à Perini
Data: 19/09/2015

domingo, 9 de agosto de 2015

O CÉU ESTÁ CAINDO


“O melhor livro de Sidney Sheldon dos últimos anos...” Esse texto está escrito na contracapa do livro. Será que dá apara acreditar? Claro que não dirão alguns, outros que sim, como sou um leitor de orelhas e contracapas, acostumado aos textos eloquentes feitos pelas editoras para ‘vender’ livros, tenho certa desconfiança quando essa apresentação não está assinada. O Céu Está Caindo foi lançado em 2000, se comparado aos escritos de Sidney Sheldon (1917-2007) nos dez anos anteriores teremos quatro livros quase infantis e três livros cujas receitas e tramas pouco se modificaram. O grande escritor de best sellers como O Outro Lado da Meia Noite e Se Houver Amanhã já podia se dar ao luxo de publicar mais do mesmo sem que seus fãs ficassem abalados, entretanto não conquistava novos leitores. No caso, o texto da contracapa não estava de todo errado.

A obra começa contando a vida corrida de Dana Evans, uma bela mulher, forte, decidida, boa jornalista cujo faro aguçado vê uma oportunidade investigativa quando o último descendente da família Winthrop é assassinado durante um suposto assalto na sua residência. Dana fica intrigada com o que foi roubado, obras de arte de menor valor se comparadas a outras existentes na casa, e começa uma pesquisa sobre o último ano da família que era famosa no mundo inteiro por sua caridade e glamour. Todos estavam mortos em incêndios, acidentes de carro e esqui, ela viaja para a França, Itália, Moscou e vai até o Alasca à procura do elo que ligará essas mortes e descobre uma intriga de proporções inacreditáveis que põe em risco além sua vida, e a das pessoas que ama, todos que habitam o planeta.

Será que ‘vendi’ bem o livro a você, leitor do blog? Após a leitura dos dois parágrafos acima você já estará curioso para ler o livro? Vou contar mais algumas coisas para aguçar mais sua coriosidade. Mesmo envolvida com toda a investigação o autor faz questão de colocar Dana em situações prosaicas do dia a dia com o intuito de torna-la mais verossímil, a luta pela adoção de Kemal, o amor pelo Jeff e a forçada convivência com a ex-mulher dele, os bastidores às vezes nada glamourosos de um programa de TV e o namorado da sua mãe.

O Céu Está Caindo possui 347 páginas na edição que vou abandonar, a partir da página 154 eu já não conseguia mais parar de ler e quanto mais avançava a história ficava mais misteriosa e reviravoltas aconteciam me deixando sem coragem de parar ao final de cada capítulo. Pensava comigo: só mais um, e essa frase se repetia até consumir o livro todo. Agora está em suas mãos nobre leitor, ler o não ler, a questão é toda sua.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Galeria da Biblioteca Pública - Barris
Data: 16/09/2015

domingo, 2 de agosto de 2015

DEIXE A NEVE CAIR


Faltava só um livro do John Green (1977) para concluir toda a obra publicada. Me propus a ler todos os livros desse autor que ganhou minha estima, por incrível que pareça com seu último livro publicado, o famoso A Culpa é das Estrelas. Deixe a Neve Cair foi o último e o li vorazmente em dois dias vivenciando uma montanha russa de sentimentos. Primeiro a curiosidade por ser um livro escrito por três autores cujas obras versam para a juventude, além do John esse livro leva a assinatura de Maureen Johnson (1973) e Lauren Myracle (1969). Em segundo lugar veio a irritação pelo excesso de vezes que os autores pronunciam nomes de lanchonetes e cafeterias cujas franquias estão instaladas pelo mundo e esses lugares, na conotação dos autores, não importando que tipo de alimento venda, estabelecem-se como único local bacana para encontrar os amigos. Fico a pensar se eles ganharam algum dinheiro para citar seus nomes tantas vezes.

Quem me conhece sabe que sou um cara perseverante e não desisto fácil das coisas que me cutucam a curiosidade. Me atraquei ao livro e o devorei, no sentido figurado, mesmo com as centenas de milhares de vezes que se fala em comida nas 335 páginas do livro, o que me deixou em diversos momentos louco para comer uma batata rosti ou me empanturrar de muffins de mirtilo.

Mas não posso negar que adorei o fato de as três histórias, entrelaçadas de uma maneira bem bacana, tenham convergido para o mesmo final, beijos de amor. Tudo começa com a nevasca que cai durante a noite de Natal e faz atolar um trem perto da cidade de Gracetown, as três histórias acontecem mais ou menos ao mesmo tempo e afetarão a vida de alguns adolescentes em diferentes estágios. A sintonia dos autores, cada um à sua maneira e com seu estilo próprio de narrativa e humor, convergem para um final quase previsível de tão romântico sem, contudo, perder o impacto da narrativa.

Não sou muito chegado ao Natal e a pseudo pieguice de anjos e sinos que tocam, entretanto sou um canceriano com boas doses de romantismo embutidas atrás da minha face sínica. Deixe a Neve Cair é um livro de Natal, não necessariamente feito para se ler no Natal, embora o espírito natalino ajude muito a você se entregar para a história.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Pátio do ICBA - Goethe Institut
Data: 17/09/2015