domingo, 1 de fevereiro de 2015

NA SALA COM DANUZA


Tenho pensado muito na questão da educação e ultimamente não só na educação acadêmica, mas também na educação chamada ‘de berço’, aquela que nossos pais nos ensinam em casa e por experiência própria sei que essa independe do nível de escolaridade. Ter escolaridade ajuda mas não é primordial. Tive uma babá que não sabia ler ou escrever, mas sentava-se à mesa com modos de uma princesa e nos fazia comer de garfo e faca e usar corretamente o guardanapo. Quem me conhece sabe que moro em Salvador/BA, no bairro da Barra, que recentemente foi amplamente reformado pela prefeitura. Os moradores locais aguentaram mais de 18 meses de poeira, engarrafamentos e ansiedade pelo que viria ser a nova orla da Barra.

Mas o que uma coisa tem a ver com a outra? Simples meu caro leitor, a obra foi entregue à população longe de estar cem por cento concluída, mas o que se vê está muito bonito, e as pessoas voltaram a circular pelas calçadas. Aproveitando que é verão, e para fortalecer minha lombar prejudicada por uma queda da escada enquanto finalizava a montagem da luz de um show, comecei a andar pela orla todos os dias e tenho visto todo tipo de falta de educação, não a acadêmica, mas a de berço. Das mais simples como jogar lixo no chão até a mais grotesca como descer até à praia e defecar nas pedras quando há banheiros públicos próximos e bem conservados.

Hoje pensei nos famosos manuais de etiqueta e boas maneiras que existem por aí, dos mais variados autores e preceitos, e me lembrei do livro Na Sala com Danuza. Não posso de imediato classifica-lo como um manual porque o estilo de escrita de Danuza está mais para crônica do que receita e sua leitura além de muito instrutiva é ainda muito atual. Apesar de publicado em 1992, quando ainda não havia a febre da internet e dos celulares, suas dicas para o uso do telefone ainda valem se aplicadas em conjunto com uma boa dose de bom senso. Suas crônicas quebram várias regras dogmáticas, exageros e modismos, somos apresentados a pequenos gestos que podem melhorar muito nosso dia a dia e a convivência com quem está à nossa volta. É justamente esse tom que ainda dá atualidade ao texto escrito no finalzinho do século passado.

Na semana passada durante minha caminhada eu vi uma cena inusitada. Uma família andava pelo calçadão quando o pai jogou uma lata de cerveja vazia no chão. A filha que devia ter uns seis anos de idade pegou a lata e disse: “Pai, no chão não, joga na lata do lixo”. Então ela caminhou uns três metros e jogou a lata na lixeira voltando toda sorridente. A mãe sorriu de volta e o pai, irritado por ter sido repreendido pela filha, deu um tapa na cabeça dela e disse: “Não envergonhe seu pai na rua sua diaba!”. A filha segurou a mão da mãe e chorou, talvez porque o tapa doeu ou talvez porque se sentiu confusa sem saber se tinha feito certo ou errado ao jogar a lata no lixo. Os três seguiram sem dizer mais nenhuma palavra. Eu fiquei parado vendo aquelas pessoas se distanciarem e me emocionei com aquela menina. Será que ela vai resistir ou vai sucumbir?

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Restaurante Iemanjá
Data: 21/03/2015

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