domingo, 3 de novembro de 2013

O LOBO DA ESTEPE


Recentemente escrevi aqui no blog que ando esquecendo as coisas, depois relatei que em momentos inusitados chegam até mim memórias dispersas sobre fatos e pessoas sem que eu às tenha chamado ou estava querendo lembrar. Percebi que essas memórias esparsas vêm em profusão quando há o silêncio em volta, seja porque o CD acabou de tocar e eu não troquei, ou não há barulho lá fora porque as janelas com vidros antirruídos me protegem dos sons do mundo. O fato é que estou gostando quando isso acontece. Depois que virei um cinquentão andei resgatando aqui no blog autores como Marguerite Yourcenar, Machado de Assis e até Dostoiévski, obras que marcaram minha vida de alguma forma e então me lembrei de Hermann Hesse (1877-1962) cujos livros eu devorei na juventude, em especial O Lobo da Estepe, que por coincidência ou não, ele escreveu quando tinha cinquenta anos.

No livro conheceremos o também cinquentão Harry Haller. Muitos alegam ser uma espécie de alterego do Herman Hesse, hipótese surgida pela aliteração entre os nomes do personagem e do autor, H.H., e a idade de ambos. Na minha mais humilde opinião são três livros dentro de um só, embora todos tratem do mesmo personagem. O primeiro é o Prefácio do Editor, uma visão do Harry feita pelo sobrinho da dona da pensão. Depois temos o capítulo Anotações de Harry Haller com o subtítulo ‘Só para loucos’ quando o próprio Harry toma as rédeas da sua vida. Aqui o veremos antibelicista, ecológico e pacifista, mas não totalmente despido de traços racistas e em vários momentos até preconceituoso. Nessa fase seremos levados pelo Teatro Mágico até o realismo fantástico e conheceremos o terceiro livro; o Tratado do Lobo da Estepe, uma análise psicológica sobre a personalidade do nosso personagem e não há como não nos identificarmos em várias passagens.

Harry acredita que sua integridade depende da vida solitária que leva em meio às palavras de Goethe e as partituras de Mozart, um intelectual tentando equilibrar-se entre o abismo dos problemas sociais e os individuais, sua  personalidade torna-se cada vez mais ambivalente e por fim estilhaçada.

Antes de concluir esse post coloquei a frase “lobo da estepe” no Google e apareceram muitas definições, claro que a maioria delas ligadas ao livro, exceto uma que me chamou a atenção “o lobo da estepe, ao contrário dos demais lobos, é aquele que caça solitário, e não em matilha”. Essa definição cabe como uma luva no personagem de Hermann Hesse já que ele começa a história como um sujeito avesso à sociedade e aos relacionamentos interpessoais.

Acredito que, bem lá no fundo, todos nós temos um pouco da personalidade do lobo, seja de que raça for. Boa leitura.

Cidade do abandono: Salvador/BA - Rio de Janeiro/RJ
Local: Voo 4207 - Azul - Bolsa da poltrona 12D
Data: 14/01/2014

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