domingo, 16 de outubro de 2011

DIÁRIO DE UM LADRÃO


Se Jean Genet (1910-1986) estivesse vivo seria um ótimo blogueiro. Aposto minha edição de Memórias de Adriano que seu blog seria mais famoso que o da Bruna Surfistinha, e Diário de um Ladrão seria um livro mais comentado do que o pobre O Doce Veneno do Escorpião. Embora eu compartilhe da opinião de que cada época é diferente e produziu suas obras dentro dos recursos disponíveis, e por isso mesmo importantíssimos como retrato, ou relato, e a partir daí temos a história, fico por vezes a pensar em autores já falecidos vivenciando os recursos atuais e com as devidas liberdades disponíveis dos dias de hoje.
Esse é o caso de Jean Genet, cuja contracapa do livro o enquadra como “ladrão, homossexual e prostituto”. Três alcunhas carregadas de emoção, preconceito e violência. Já eu prefiro o epíteto de escritor, poeta e dramaturgo, e por esse mote você já percebe que Jean Genet não foi uma unanimidade, muito pelo contrário, era controverso e polêmico. Com tantos adjetivos você também já sabe que terá de ser como São Tomé, ler suas obras para tirar suas próprias conclusões.
Diário de um Ladrão é um mix de autobiografia com livro de memórias, adicionadas aqui e acolá várias pitadas de devaneio do próprio autor, passagens que você não sabe se são verdadeiras ou se são versões do autor para os fatos ocorridos. Genet narra suas andanças por vários países da Europa, seus encontros e amores com os mais variados tipos de marginais e, ao conferir uma dimensão quase heróica à criminalidade, ele se transforma numa espécie de ‘santo às avessas’, ou como preferem alguns, um ‘anjo do mal’. Suas cenas são descritas com crueza e violência, embaladas por cenários de extrema pobreza e conduzidos por caminhos tortuosos de amor e sexo bruto.
Jean-Paul Sartre, muito amigo de Genet, afirmou que Diário de um Ladrão deve ser lido como um livro poético, assim como O Balcão, As Criadas e Nossa Senhora das Flores. Ler essa obra requer um olhar diferente, sem pré julgamento, com a alma aberta para tentar compreender uma época, um conceito, um modo de vida, um exemplo a ser seguido... Ou não.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Estacionamento Perini - Graça
Data: 18/12/2011

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