sábado, 17 de setembro de 2011

UM AMOR


Não sei se inspirado na primavera que começa na próxima semana, ou talvez sugestionado por uma peça de teatro que assisti ontem chamada Alugo Minha Língua, com um ótimo texto de Gil Vicente Tavares e uma direção precisa de Fernando Guerreiro, mas o fato é que amanheci com essa sensação de falta de amor, ou desamor, ou será solidão de amor? Isso me inspirou a procurar um livro específico dentre os muitos que tenho para abandonar chamado “Um Amor”. Assim como a primavera traz a temporada do acasalamento, a peça que assisti ontem falava sobre a banalização do erotismo em contrapartida das relações humanas, Dino Buzzati (1906 – 1972) conta a história da solidão, do desamor, da dor do amor, ou tudo junto como no Caldeirão do Huck.
Antonio Dorigo, personagem principal, um arquiteto cinqüentão já realizado profissionalmente, conhece a jovem prostituta Laide, que lhe desperta um interesse fora do normal. Em pouco tempo, ele é seduzido pelas histórias mirabolantes da moça, e sua curiosidade inicial se transforma numa paixão avassaladora. Obcecado por todos os detalhes da vida de Laide, Dorigo se envolve num mundo de mentiras e mistérios no qual vai se perder como nunca imaginou ser possível. É a solidão em que vive, e que finge ignorar, que o leva a interessar-se por ela, de querer um pouco mais daquela mulher tão ambígua que lhe concede intimidade com hora marcada. Em outras palavras, ele sente a necessidade de conhecer alguém além de um corpo, a necessidade de partilhar seus sentimentos e se entregar a um amor.
Mas, pensando bem, Um Amor é também a história de um processo de saturação, pois, a partir de certo momento Dorigo se dá conta de uma vida emocional marcada pelo vazio profundo, pela falta de um relacionamento significativo que lhe suprisse as carências mais fortes, ignoradas até a aparição de Laide quando se impõem com toda força. Ela o fará sofrer, e ao se ver sofrendo ele se impõe o auto controle, caminho confortável que trilhou por toda a vida e neste momento sente-se aliviado, mas a tristeza é impiedosa, ele sabe que voltou a ser novamente só, querer controlar o amor é impossível e por isso vai perde-lo, e ao perder o amor perderá também a possibilidade de superar a solidão.
Dino Buzzati escreveu Um Amor quando já era um homem maduro, e o romance tem algo de inspiração autobiográfica. Buzzati também se apaixonou por uma mulher muito mais jovem, Almerina Antoniazzi, com quem viria a se casar em 1966.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Ponto de Ônibus - Sala de Arte - Cinema da UFBA
Data: 18/12/2011

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