domingo, 31 de julho de 2011

QUEM MATOU PALOMINO MOLERO?


Quase dez anos depois de o Brasil inteiro comentar e tentar descobrir quem matou Salomão Hayala, personagem da novela de Janete Clair intitulada O Astro, o peruano Mario Vargas Llosa publicava seu décimo livro. Uma obra diferente das outras até então lançadas com relativo sucesso no seu país de origem.
No Peru, por volta dos anos cinquenta, um soldado da aeronáutica é brutalmente torturado, assassinado, e depois pendurado numa árvore. Dois policiais, o Tenente Silva e o soldado Lituma, investigam o crime. A maestria na escrita de Mario Vargas Llosa confere a narrativa uma tensão alucinante e obsessiva, a tensão estabelecida deve-se ao alto grau de veracidade minuciosamente realista, alternada com uma atmosfera fantasmagórica como num pesadelo. Crime passional? Vingança de marido enganado? Negócios escusos? Os antecedentes são desvendados ao longo da trama, mas a intriga nos mantém atentos e interessados até o desfecho final.
Em 1987 eu li e reli o livro que pretendo abandonar, é uma obra surpreendente, não apenas pelo suspense na trama, mas pela maneira com que o autor revela as minúcias do inesperado final. Desde a novela O Rebu, 1974, passando por Água viva (1980), A Próxima Vítima (1995), Celebridade (2003), Paraíso Tropical (2007) e a inesquecível Vale Tudo (1988) o recurso do “quem matou” é fator preponderante para alavancar audiência e despertar o interesse público.
Quem Matou Palomino Molero não é a principal obra do autor, temos aí ‘A Casa Verde’, ‘Pantaleão e as Visitadoras’ e a mais recente ‘Travessuras da Menina Má’, mas sem dúvida é um livro por assim dizer... Curioso.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Associação Atlética da Bahia
Data: 16/10/2011

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O GATO SOU EU


“O Gato Sou Eu. Todos tem o direito de sonhar, e cada um o de ser dono de seu sonho.”

“Mas quem é o gato afinal? O psicanalista, tão atencioso em sua análise, ou o cliente que lhe conta seu sonho? Entre um e outro, o gato firma-se como símbolo da liberdade incondicional de sonhar.”

O primeiro parágrafo acima está na capa do livro. O segundo está na orelha. Na minha modestíssima opinião ambos refletem exemplarmente o olhar, a técnica e o estilo de um autor maravilhoso. Fernando Sabino (1923-2004).

Fernando Sabino é um desses autores que lemos sem pressa, examinando suas palavras e em deleite com a graça e a simplicidade dos seus textos. Este livro é recheado de crônicas e histórias engraçadas, às vezes comoventes, ora pitorescas, capazes de arrancar ótimas risadas ou mesmo olhos mareados pela ternura dos textos. Reza a lenda que muitos deles são verídicos, fruto das histórias vividas pelo próprio Fernando por este mundo afora.
Fernando já escrevia desde os quatorze anos, ao dezoito conseguiu publicar seu primeiro livro de contos intitulado Os Grilos Não Cantam Mais, chamou a atenção para o seu nome em 1944 com a novela A Marca. Com a publicação de O Encontro Marcado, seu primeiro romance, abre um caminho novo em sua carreira na literatura nacional. Obras como O Homem Nú, A Mulher do Vizinho e posteriormente, O Grande Mentecapto, contribuíram para que Fernando Sabino conquistasse a notoriedade nacional sendo aclamado pela crítica e pelo público.
É um autor simples, com uma obra rebuscada. Popular, mas elitizado pelos críticos. Não tem uma obra imensa como Jorge Amado ou Paulo Coelho, mas são exemplares de um legado grandioso. Experimente, você vai ficar fã.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Delicatessem Perini - Graça
Data: 15/10/2011

segunda-feira, 4 de julho de 2011

ASFALTO SELVAGEM I


Este é o meu post de número 50. Como o número é bem significativo resolvi escrever sobre uma história que virou livro depois de publicada em capítulos no jornal, e de um autor que, apesar de ter nascido em Pernambuco, foi no Rio de Janeiro que obteve a fama de “obsceno” e “anjo pornográfico” por escrever sobre amores passionais, traições, e retratar o sexo nas tradicionais famílias cariocas.

“Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico (desde menino).”

Nelson Rodrigues (1912/1980) foi repórter policial, cronista esportivo, romancista, teatrólogo, mas, principalmente, um observador do cotidiano e crítico da sociedade carioca da primeira metade do século XX.
O livro Asfalto Selvagem I compila a primeira fase da saga de Engraçadinha - Seus Amores e Seus Pecados, que vai dos doze aos dezoito anos, em sua edição definitiva. A história arrebatou milhares de leitores ao ser publicada na forma de capítulos, entre 1959 e 1960, no jornal Última Hora. Engraçadinha é uma garota que catalisa paixões precoces e como tem a exata noção do fascínio que exerce sobre homens e mulheres, não se detém em manipulá-los ao seu bel prazer.
A obra foi adaptada para o cinema em 1981, dirigido por Haroldo Marinho Barbosa, rendeu a Lucélia Santos o prêmio de Melhor Atriz no festival de cinema de Brasília pela interpretação despudorada de Engraçadinha. Isso causaria uma saia justa na posterior adaptação da obra para a TV em 1995, uma vez que Alessandra Negrini foi convidada para viver Engraçadinha na primeira fase, e farpas rolaram na divulgação do nome de Cláudia Raia para a segunda fase. Tive o prazer de assistir as duas versões, mas o que realmente fica é o texto primoroso de Nelson, as atuações são licenças poéticas e elas que se descabelem para saber quem foi a melhor.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Salvador Shopping - Corredor A - 2º Piso
Data: 28/08/2011