domingo, 6 de fevereiro de 2011

O NOME DA ROSA


Este livro virou febre no início dos anos 80 (Séc. XX) quando foi lançado na Itália, aqui no Brasil por volta de 1983 todos os intelectuais e “antenados” da época gabavam-se da leitura, muitos sem jamais terem vencido as quase 600 páginas (562 na edição que abandono). Os que não concluíram a leitura foram salvos em 1986 quando assistiram ao filme homônimo ao livro.
Umberto Eco (1932) ambientou seu romance em um mosteiro na Itália medieval. A morte de sete monges, um por dia em circunstâncias insólitas, com requintes de crueldade, por vezes erotismo, e até um pouco de humor negro, é a base para desvendar os conflitos no seio dos movimentos heréticos do Séc. XIV, as violências sexuais, a luta contra a mistificação, o poder e a demagogia da igreja. O autor, que além de escritor, é filósofo, semiólogo, linguista, e bibliófilo italiano, nos propõe uma reflexão já na escolha do título de seu livro “O Nome da Rosa” que nos remete ao nominalismo... “que é entre o que parece ser o nome da ‘rosa’ como nome, em si um conceito, portanto um nome universal e, dessa forma, eterno, imutável, imortal, e de sua contraposição a ‘rosa’, flor de existência única na realidade, mas passageira, mortal e transitória.”
No enredo, Frei Guilherme de Baskerville é designado para investigar uma suspeita de heresia em um mosteiro franciscano mas tem sua missão interrompida, ou iniciada a meu ver, pelo acontecimento dos excêntricos assassinatos. Esse é o mote da divulgação do livro que, quando virou filme, contou com uma excelente atuação de Sean Connery se desvencilhando de vez do fantasma do espião 007, e um Christian Slater em começo de carreira no papel de Adso de Melk, o fiel escudeiro do Frei Guilherme. Dizem por aí que o nome Adso foi uma homenagem fonética de Eco a ‘Watson’, fiel acompanhante de Sherlock Holmes, detetive de quem é fã.
Demorei para ler esse livro, e não vi o filme até que o concluí. Confesso que reli duas vezes até entender a dinâmica do mosteiro, acompanhar no mapa as idas e vindas dos personagens e me fascinar com a Biblioteca. Esta sim, no meu entender, o personagem principal, o viés da história, a causadora de todos os acontecimentos, e, principalmente, as justificativas e razões lançadas pelo autor para as mortes. Um dado importante no livro me chamou à reflexão; o fato de a cultura, sabedoria e conhecimento serem um privilégio de apenas alguns poucos, e por essa razão, ter o poder de manipular os damais em função de outros interesses que não a descoberta da verdade, e o mais relevante: a dúvida lançada se a instituição ‘Igreja’ possa ter ou não destruído uma grande parte da nossa herança cultural, pela simples razão de ser incômoda para a religião e fé católicas, e sobretudo, para a manutenção dos seus privilégios e condição social, econômica e política. Dan Brown viria a lançar essa mesma dúvida 20 anos depois com Anjos e Demônios e O Código Da Vinci, mais aí já é outra história.
É ler e tirar suas próprias conclusões.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Av. Reitor Miguel Calmon - Ponto de ônibus - Escola de Medicina da UFBA
Data: 23/04/2011

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