terça-feira, 31 de agosto de 2010

O CORTIÇO


Muitos críticos dizem que o personagem principal desta obra prima de Aluísio de Azevedo não é de carne e osso, nem mesmo quando lemos toda a saga de João Romão, português bronco, ambicioso e trambiqueiro, que dorme do balcão da quitanda e come as verduras que estão por apodrecer para não gastar um centavo do que ganha, e que se apropria dos poucos recursos da escrava Bertoleza até construir suas casinhas e dar início a sua escalada para a riqueza. A negra também não serve como heroína, apesar do final primoroso do personagem, bem no estilo naturalista do autor, e nem a sensual Rita Baiana e o seu trágico e tórrido romance com Jeronimo, português recém chegado que larga descaradamente a esposa, foge com Rita e ainda manda matar a pauladas o companheiro dela. Também não é protagonista a história de Pombinha, afilhada da prostituta Leone, moça virgem e prometida a João da Costa, a única que sabe da vida de todos, por ser uma das poucas alfabetizadas dedica-se a ler e escrever cartas para os vizinhos, tomando consciência das mazelas e da podridão humana. Temos também as histórias de Albino, Machona, seu Botelho, Neném e outros. Chegamos então à conclusão de que a vida contada no livro é a do próprio Cortiço, eleito personagem principal da obra, e não de seu dono ou de qualquer um de seus infelizes moradores. Vale a leitura, é um clássico, pena que é um livro muito recomendado em vestibulares e por professores do segundo grau, e, convenhamos, nessa época não temos maturidade para perceber as linhas naturalistas de Aluísio de Azevedo e todas as suas nuances.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Supermercado Hiper Ideal - Barra
Data: 20/11/2010

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